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Ter vinte e poucos anos é divertido, mas só quando acaba é que você percebe que ainda não estava mesmo pronto pra ser adulto.

Thursday, June 17, 2004

Quando criança, eu aprendi a negligenciar meus desejos e sentimentos em função dos desejos de meus pais. Sempre foi isso que foi pregado na minha casa. Tinha aquela coisa de hierarquia, na qual eu era o último e eu aprendi que meus desejos eram os menos importantes.

Eu mudei pouco em alguns aspectos. Até hoje eu negligencio muito meus desejos e sentimentos. E pago muito caro por isso. Isso gera uma imensa frustração em mim. Eu faço muito isso ainda com minha mãe, com o Gu e com o meu trabalho. Eu faço sacrifícios que ninguém vê e depois sinto raiva por meus sacrifícios não serem recompensados. E eu fico ansioso por atenção. Meus desejos nunca foram ouvidos. Eu nunca fui ouvido.

Uma das minhas maiores ânsias, o tempo todo, é por atenção. Será que aquela minha tensão constante não é em parte por isso?

Aquilo que eu falei ontem pro Júlio, que não era medo de as pessoas não gostarem de mim a causa final: a coisa toda é querer atenção? O medo de que não gostem de mim é na verdade medo de que não me dêem atenção? É por isso que eu brigo feio com o Gu sempre que ele não me ouve. Não receber atenção é o pior castigo pra mim.

De onde vem isso, exatamente? Eu comecei imaginando que vinha da infância, dos meus pais não prestarem atenção nenhuma a meus sentimentos, que eram muito fortes, por eu sempre ter sido muito sensível. Quer dizer, o fato de eu ter passado por isso no passado pode ter criado uma compulsão por atenção, tipo eu me acostumei a querer atenção e ser infeliz pela falta dela. Mas eu acho que tem outra coisa: eu aprendi a não dar atenção a meus sentimentos e sempre dar mais importância para o que os outros querem do que para o que eu quero e faço isso até hoje. Com isso, eu mesmo não me dou atenção e fico com um vácuo de atenção dentro de mim. Eu preciso que os outros me dêem atenção porque eu não me dou atenção.

Eu preciso de atenção dos outros porque não dou atenção às minhas necessidades, aos meus sentimentos e a meus desejos? Putz! Eu mal consigo saber quais são meus desejos de tanto que eu aprendi a recalcá-los!!!! Eu vivo em dúvida sobre o que eu quero porque eu não consigo saber quais são meus desejos reais!!!!

Monday, June 14, 2004

Liberdade é sobre viver sem medo

Eu sempre sonhei com liberdade, porque eu nunca me senti livre. Eu me sinto preso por tudo que devo, ou não posso, ou não devo, ou nem deveria pensar. Tipo tudo aquilo que é perigoso ou é demais pra mim, ou é perigoso demais pra mim.

Eu me sinto preso. Eu sou atormentado por obrigações e medos, por culpas e medos, por arrependimentos e medos, eu me sinto atormentado e angustiado, eu me sinto fraco e feio e farto: tão farto disso tudo. Eu me sinto tão tenso, o tempo todo tão tenso...

Porque o medo e a culpa fazem com que eu precise estar alerta. O tempo todo alerta. Tão tenso e tão farto de tudo isso. Se eu soubesse como desistir, já teria desistido... Se eu soubesse como largar tudo que tem dentro de mim... tanto peso... se eu pudesse abandonar a mim mesmo e sumir e ser ninguém.
Eu já falei muito sobre medo de escrever e coisas assim... Mas como posso eu superar isso? O q eu faço?

Eu acho que tudo começa pela autoconfiança.

Aliás, tudo em mim começa pela autoconfiança, cuja falta é minha grande fraqueza nessa vida. Eu preciso mesmo resolver isso. Tem muito a ver com minha relação com minha família quando eu era criança. E tem muito a ver com a maneira em que construí minha relação comigo mesmo, deriva daquela primeira relação...

Friday, June 04, 2004

Hoje é sobre medo

Eu tenho medo de gente. E tenho medo de solidão.
Tenho medo de falar ao telefone e de entrar em lojas.
Eu tenho medo de aranha e tenho medo de ser visto.
Eu tenho medo de perder o controle.
E tenho medo de não conseguir. Sempre tenho medo de não conseguir.
E tenho medo de qualquer carta que me chega. De tudo que não estou esperando.
Eu tenho medo de escrever e de todas as cores que podem sair quando eu escrevo. E de não escrever e passar em branco.
Medo demais e de coisas demais. É como olhar a vida a partir do medo. E ter medo de olhar a vida.
E medo de que ela passe sem ser vista.

Estou com medo enquanto escrevo isso. Estou com medo do que está saindo e de esquecer coisas importantes. E tenho medo de que não faça diferença nenhuma. Eu sempre tenho medo de que não faça diferença nenhuma.

Eu queria mesmo era ser destemido. Ser desses aí que chegam numa sala cheia de gente e começam a falar da vida. Ser capaz de escrever tudo que tem dentro de mim e ainda deixar por aí pra que alguém veja. Queria ser capaz de tocar as pessoas e deixar que elas me tocassem. E entrassem em mim, no meu mundo. Eu queria mesmo era deixar de ser tímido e sisudo e ser eu mesmo. Ser leve como eu sou por dentro e parar de prever as ações de todo mundo a cada segundo. Eu nem ligava se perdesse minha capacidade de prever o futuro por causa disso.

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